Pude ver seus pés descansando no chão frio, os lábios trêmulos por causa do frio, os olhos... lágrimas transbordando pelos olhos escuros. Aquela visão me tocou de uma forma, e eu não podia fazer nada para ajudar... Aquela criança, sem pai nem mãe, sem uma pessoa sequer.
Pensei em continuar andando, mas deixá-la ali sem nada era covardia. Havia uma padaria aberta, bem perto dali, comprei um pouco de pão e uma barra de chocolate, afinal, que pessoa não se animaria com chocolate? Caminhei em direção a garotinha, e percebi que ela se encolhia cada vez que eu chegava mais perto dela. Parei! As palavras que sairam de minha boca parece ter reconfortado um pouco mais a pequena, pois ela saiu um pouco do seu estado de defesa e passou a me olhar fixamente... "Calma, não vou machucar você... sou amiga", e dizendo isso caminhei um pouco mais para perto dela, e dessa vez ela não fez nada para me deter.
Sentei ao seu lado com a sacola na mão, e ela me pareceu um tanto quanto curiosa para saber o conteúdo. Ri! Abri a sacola e peguei um pão, estendendo para ela, que não fez nenhuma cerimônia em aceitar e colocou o pão quase que inteiro na boca... ela parecia com muita fome. Depois de ter comido o pão, estendi a barra de chocolate, e os olhos dela brilharam com a visão que tinha. Comia devagar, como se tivesse apreciando algo raríssimo...
Um tempo depois, ela estava deitada, com a cabeça encostada em uma das minhas pernas, encolhida... eu não podia ficar ali a noite toda, mas antes de sair, tirei meu casaco e coloquei sobre ela. Um casaco a menos não me faria falta... e ela parecia precisar mais que eu. Me levantei e quando estava de partida, percebi que ela acordara. Só pude ver o pequeno sorriso entre os lábios e ouvir a voz da pequena "Brigada moça". Aquilo foi um gesto muito simples, mas tive uma noite muito mais tranquila... me sentia bem!