20 outubro 2011

O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade

19 outubro 2011

14 outubro 2011


A consciência de amar e ser amado traz um conforto e riqueza à vida que nada mais consegue trazer.

— Oscar Wilde

Acabara de acordar, e já estava de pé. Seguiu para o banheiro e passou uma água no rosto. Desceu as escadas, e parou na cozinha, olhando todos que estavam sentados tomando café. A atenção voltou a si, e todos estavam um tanto quanto abobalhados. Sua esposa lhe perguntou se sentia bem, seu filho mais novo se estava sentindo alguma coisa. Até seus netos se assustaram, afinal, depois de semanas deitado naquela cama, finalmente estava de pé.
Afirmou a todos que se sentia novo, e nenhum sintoma havia aparecido. Estava tão bem que disse querer caminhar um pouco. Olhares receosos se voltaram para o mesmo, repreendendo-o. Não se importava, era maior de idade - aliás, tinha mais idade do que gostaria - e podia muito bem tomar suas próprias decisões. Resolveu tomar um café reforçado, colocar uma roupa limpa e sair pela porta da frente.
Deu um beijo em sua esposa preocupada, abraçou seus dois pequenos netos, como se fosse o último abraço que daria, e um aperto de mão mostrando firmeza em seu filho. Saiu em sua jornada. Comprou o jornal do dia, e uma garrafa de água, e com suas sandálias, sua bermuda, camisa e boné, saiu a caminho do parque.
Chegando lá, a tosse atacou. Atacou muito. Com seu lenço manchado de vermelho, e suas mãos um pouco trêmulas, ele tentou ao máximo ignorar as pontadas que recebia em seu peito. Caminhou. Sentou-se em um banco qualquer e pegou seu pedaço de papel escrito com algumas notícias e colocou-se a ler. As palavras se embaralhavam, e alguma coisa muito estranha acontecia com ele. Sentia dores, dores fortes, mas não apavorou-se, pelo contrário, se sentia estranhamente confortável. Uma paz reinou, mas a tosse não cessava. Lembrou de seus filhos, lembrou de seus netos, lembrou da mulher amada, e fechou os olhos. Descansou.

13 outubro 2011

Saga

Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fugaz que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi

Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir

Enquanto andava, maldizendo a poesia
Eu contei a história minha pr´uma noite que rompeu
Virou do avesso, e ao chegar a luz do dia
Tropecei em mais um verso sobre o que o tempo esqueceu

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer

E era de gozo, uma mentira, uma bobagem
Senti meu peito, atingido, se inflamar
E fui gostando do sabor daquela coisa
Viciando em cada verso que o amor veio trovar

Mas, de repente, uma farpa meio intrusa
Veio cegar minha emoção de suspirar
Se eu soubesse que o amor é coisa assim
Não pegava, não bebia, não deixava embebedar

E agora andando, encharcado de estrelas
Eu cantei a noite inteira pro meu peito sossegar
Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar

08 outubro 2011

Uma rua, de um bairro qualquer, de uma cidade qualquer. Ele caminhava calmamente, como fazia todos os dias, desde que se mudara. Com as mãos nos bolsos da calça, os ombros contraídos e uma expressão mostrando concentração, não via nem percebia nada que acontecia por ali. Os muros desbotados, as casas em construção, se mesclando com algumas casas já construídas a um bom tempo, o cenário para sua caminhada.
Uma rua, de um bairro qualquer, de uma cidade qualquer. Os sapatos nas mãos, a roupa amassada, a cara assustada, maquiagem borrada e uma dor de cabeça inacabável, era o que se passava. A garota não sabia muito bem onde estava, na verdade nem se lembrava como havia parado ali, nunca havia feito isso, se bem que nunca tinha saído dessa forma. Em pensar que já era seu segundo dia com dezoito anos, e já tinha feito besteira.
Uma esquina, de uma rua qualquer, de um bairro qualquer, de uma cidade qualquer. O rapaz atravessou a rua, sem nem se dar conta de quem passava por ali. A garota, desesperada, nem se dera conta de quem passava por ali. Se cruzaram, e nem se notaram... Ele estava indo para algum lugar, mas se lembrou que tinha esquecido alguma coisa em casa. Ela não sabia pra onde ia, e deu meia volta. Se cruzaram, e novamente, nem se notaram.
Muitas vezes ninguém percebe o que se passa a sua volta, muitas vezes ninguém segue o que lhe é mostrado. Darei uma terceira e ultima chance para os protagonistas dessa história, e me pergunto, se alguém daria mais uma chance para algo que se passa despercebido por aí, se notarem, é claro.
Novamente, uma esquina, de uma rua qualquer, de um bairro qualquer, de uma cidade qualquer. A garota decidiu ficar em um ponto fixo, precisava dar um jeito de se comunicar com alguém. Mais uma vez deu meia volta. O rapaz, agora com o que precisava ter pego em casa, voltava para o caminho que fazia. Se cruzaram, pela terceira vez, mas algo diferente aconteceu. Seus olhos captaram um corpo estranho no local, se dando conta de que não estavam sozinhos, como achavam até o momento. Notaram a presença um do outro.

04 outubro 2011

...

A poesia não se entrega a quem a define.
Mário Quintana

03 outubro 2011

Fique comigo, fique comigo essa noite, não vá embora tão depressa. Me deixe aqui, estou confortável dessa forma, estou bem, aqui com você. Não vá embora hoje, passe a noite aqui, vamos ficar acordados até tarde vendo um filme, ou talvez apenas conversando. Gosto de sentir o seu cheiro, gosto de ouvir a sua voz, quero te ver sorrindo pra mim. Por favor, fique, quero você aqui, junto de mim, que o tempo pare e fique eterno pra nós.

01 outubro 2011

O Homem e A Mulher (Victor Hugo)

O homem é a mais elevada das criaturas,
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono,
Para a mulher, um altar,
O trono exalta,
O altar santifica.
O homem é o cérebro,
A mulher, o coração,
O cérebro fabrica a luz,
O coração, o Amor.
A luz fecunda,
O amor ressuscita.
O homem é forte pela razão,
A mulher, invencível pelas lágrimas.
A razão convence,
As lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos,
A mulher é capaz de todos os martírios,
O heroísmo enobrece,
O martírio sublima.
O homem tem a supremacia,
A mulher, a preferência.
A supremacia significa a força,
A preferência representa o direito.
O homem é um gênio,
A mulher, um anjo,
O gênio é imensurável,
O anjo, indefinível.
A aspiração do homem é a suprema glória,
A aspiração da mulher é a virtude extrema,
A glória engrandece,
A virtude diviniza.
O homem é um código,
A mulher, um evangelho,
O código corrige,
O evangelho aperfeiçoa.
O homem pensa,
A mulher sonha,
Pensar, é ter no crânio, uma larva,
Sonhar, é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano,
A mulher, um lago,
O oceano tem a pérola que adorna,
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa,
A mulher, o rouxinol que canta,
Voar é dominar o espaço,
Cantar é conquistar a alma.
O homem é um templo,
A mulher, o sacrário,
Ante o templo nos descobrimos,
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra,
A mulher, onde começa o céu.